domingo, 28 de março de 2010

( XVII ) CONSIDERAÇÕES

Enquanto na Germânia do imperador Carlos V a Reforma de Lutero se fortalecia, no reino da Inglaterra, distante de Roma más não das fogueiras punitivas idealizadas pela inquisição, sob a bandeira do protestantismo se alinhavam inúmeras religiões que surgiam a partir de discordâncias com o Anglicanismo. Da Inglaterra, passando pela França de Francisco I que forçou o exílio de Calvino, chegaram à Escócia de John Knox, invadiram a Europa, e finalmente chegaram ao Novo Mundo levadas por aqueles que haviam sido forçados a abandonar o solo pátrio devido ao absolutismo religioso.
Se o leitor, agora, desviar por alguns instantes a sua atenção desse texto, endereçando-a aos tempos em que o homem de Neanderthal começou a sepultar seus mortos, passando sucessivamente ao hinduísmo - à primeira religião do orbe terrestre a reconhecer em Brahma a fonte do todo e a discursar metafisicamente a respeito do que o homem devia fazer para salvar sua alma, continuando até os cultos aos deuses e aos mortos dos Egípcios, seguindo para o budismo e zoroastrismo, para depois chegar ao judaísmo, cristianismo e islamismo, em breves instantes concluirá que a humanidade sempre buscou um meio: doutrina, credo ou religião, que lhe permitisse estabelecer através do seu EU interior, um dialogo, mesmo se em verdade sempre foi um monologo, com aquele que independentemente do nome que lhe é dado, é o “Senhor do Universo”.
Um exemplo deste monologo o tivemos quando o papa Joseph Ratzinger, em maio de 2006, foi visitar Auschwitz e Birkenau (locais em que durante a segunda guerra mundial o exercito Alemão chacinou milhares de hebreus), e disse: Quantas perguntas nos são impostas por este local! Porque tem que continuar emergindo estas indagações? Onde estava Deus naqueles dias? Porque ele calou? Como ele tolerou este excesso de destruição, este triunfo do mal? E citando alguns versos do Salmo 43 verbalizou: Acordai, Senhor! Por que dormis? Despertai! Não nos rejeteis continuamente! Por que ocultai a vossa face e esqueceis nossas misérias e opressões? Nossa alma está prostrada no pó. Levantai-vos em nosso socorro e livrai-nos pela vossa misericórdia.
Nos não podemos perscrutar o segredo de Deus – só podemos observar seus fragmentos, portanto, erraríamos se almejássemos ser juizes de Deus e da história, porque neste caso não estaríamos defendendo o homem, mas contribuindo para a sua destruição. Não, definitivamente, devemos permanecer com o humilde mas insistente grito em direção a Deus: Acorda! Não se esqueça da tua criatura, o homem. E o nosso grito endereçado a Deus, concomitantemente, deve ser um brado que penetre também no nosso coração, para que em nos acorde a oculta presença de Deus – de modo que aquele poder que Ele depositou em nossos corações não seja coberto e sufocado pela lama do egoísmo, pelo medo dos homens, pela indiferença e oportunismo.
Fonte:www.chiesa.espressonline.it

Esta perene busca, contudo, mesmo se alguns acreditam que a completaram, estão muito equivocados, porque a humanidade continua indescritivelmente muito distante do momento em que, por ter conseguido finalmente se libertar de suas imperfeições, poderá se despedir definitivamente dos corpos que lhe permitem viver nas adjacências deste planeta, encarnada ou desencarnada, e rumar para outras paragens buscando as novas experiências que lhe consentirão prosseguir no seu aperfeiçoamento.
Mesmo neste XXI século da era cristã, é insignificante a parcela da humanidade que, em estrita correlação com a sua estatura moral e espiritual, tem o privilegio de estar um pouco acima do nível de saber de seus semelhantes nas questões que se relacionam com o divino. Mesmo assim, a falta de humildade que lhe é peculiar, sejam eles quem forem, é o obstáculo que a impede, e continuará impedindo, enquanto permanecer priorizando os valores materiais em detrimento dos espirituais, ou seus interesses escusos em prejuízo daqueles dos seus semelhantes, de galgar novos degraus em direção “Daquele que tudo vê”. Porque se tivesse crescido um pouco mais, entenderia que “Deus” não necessita, aqui na Terra ou em qualquer outro lugar do Universo, de “soldadinhos de chumbo” para lhe servirem de guarda costa, ou forças especiais para educar com a violência os hereges do passado ou os infiéis de hoje, porque, alem de serem todos suas criaturas, Ele é o único que tudo pode em si mesmo.
Os que se julgam escolhidos - ainda que seus relatos sejam verdadeiros - lhe é inconcebível entender, ou se entendessem, aceitar, que em inúmeros momentos foram, e ainda são – independentemente da importância ou seriedade que atribuem ao caso - meros joguetes daqueles que residem além do horizonte do mundo, mesmo se para alguns estes são o espírito santo e para outros a própria palavra de Deus.
Quantos indivíduos se dedicam de corpo e alma ao serviço eclesiástico ou religioso porque “ouviram um chamado” - que interpretam como sendo “a voz de Deus” - lhes pedindo para seguir este caminho? Ou então tomam esta ou aquela decisão – e a partir dela praticam o bem ou o mal - porque “esta voz” – a grande maioria das vezes uma manifestação de “espíritos não benfazejos” – insistiu para que assim fizessem? Allan Kardec no livro dos médiuns, capitulo das evocações, escreve:
Um senhor tinha, em seu jardim, um ninho de pintassilgos pelos quais se interessava muito; um dia, o ninho desapareceu; estando seguro de que ninguém da casa era o culpado do delito, como ele próprio era médium, teve a idéia de evocar a mãe dos filhotes; ela veio e lhe disse em bom francês: “Não acuse ninguém e sossega quanto a sorte de meus filhotes; foi o gato que, saltando, derrubou o ninho; tu o encontraras sob a relva, assim como os filhotes que não foram comidos. “Verificação feita, a coisa foi constatada exata. E preciso disso concluir que foi o passaro que respondeu? Não, seguramente; mas simplesmente um espírito conhecedor da história. Isso prova o quanto é preciso desconfiar das aparências.
Evocai um rochedo e ele vos responderá, porque há sempre uma multidão de espíritos prontos para tomarem a palavra para tudo.
Um episódio pessoal, ocorrido há muitos anos, é outro bom exemplo para aclarar o que está sendo exposto: Em duvida diante de uma decisão que devia ser tomada, e sem a experiência que o evento exigia, resolvi evocar um “espírito de luz” para que me ajudasse. Recebida a resposta, como esta de certa forma contrariava o bom senso, resolvi ir mais fundo e, fazendo uma prece, evoquei a Nossa Senhora. Segundos depois ela estava na minha frente, linda, inconfundível! Cai de joelho e, com lagrimas nos olhos, orei.
Daquele dia em diante, sempre que pensava no que acontecera, ouvia a sua voz. Sim, havia algo errado! Alguns dias depois resolvi tirar a questão a limpo: ouvida novamente, perguntei: como a mãe de Jesus tem tempo para perder comigo, se com certeza, por ser ela quem é, tem outras tarefas mais importantes? Sua resposta à primeira vista foi muito cortes: “Fui a mãe de Jesus, não posso negar, mas aconteceu porque fui a escolhida, todavia, continuo sendo uma mulher como todas as demais”. Naquele momento, como havia planejado acrescentei: Meu Deus, de a ela, por favor, mesmo se não quiser, um milhão de vezes mais daquilo que ela tenta dar para mim! Se for maldade, que seja levada para as trevas, e se for luz, que esta lhe seja ampliada. A resposta foi imediata...Uma infinidade de execrações que a educação impede que sejam aqui repetidas.
Depois desse exemplo - uma repetição dos milhares de aparições que o cristianismo relata que acontecem ao redor do mundo, e considerando ainda que, enquanto no Vaticano é dito: dentro deste recinto falamos com “Deus”, os evangélicos afirmam que nos seus templos discorrem com “Jesus”, deixamos que o leitor remate por si mesmo o que deve acontecer nas terapias do tipo “xô capeta”, principalmente quando são condimentadas com a participação daquelas “mães de santo” que em suas tarefas diárias, em troca de remuneração, inserem as que se destinam a azucrinar seus semelhantes
Sim, há sempre uma multidão de espíritos desencarnados prontos para fazer o mal, ou, na melhor das hipóteses, para aproveitar todas as oportunidades para se “divertirem”, como, alias, acontece entre os espíritos encarnados, especialmente aqueles que diariamente são merecedores de destaque nas paginas dos jornais.
É impensável, vulgar, exclusivamente digno de obtusos, acreditar que Deus - utilizando um dos nomes que parte da humanidade lhe atribui, quando melhor seria, na auxencia de palavras mais apropriadas nos dicionários do mundo, chamá-lo “Inteligência Suprema do Universo”, do cerne da interminável vastidão cósmica, com seus bilhões de sois e sistemas planetários, dos quais muitos são moradas de outros seres, esteja disponível ou se dedique com exclusividade a apascentar os homens que habitam este Planeta.
É a essa “Inteligência Cósmica”, que jamais qualquer ser deste planeta viu ou verá, que a mesquinhez humana se atreve a lhe imputar a mesma “irracionalidade” que ainda é portadora, irracionalidade esta que em muitas ocasiões até supera a que rege a conduta das feras mais selvagens.
Como, diante da imensidão cósmica, e dos trilhões de corpos celestes que nela orbitam, o homem, mais uma vez seja ele quem for, se atreve a se julgar com os méritos necessários para exercer o cargo de preposto daquele que o criou, ou, pior ainda, acreditar que esta “Força Universal Toda Sábia”, necessita recorrer a formas de vida rudimentares, conseqüentemente de inteligência primarias - os homens - para auxiliá-la?
Sim, se quisermos entender porque o homem, ao longo dos séculos, tem perseverado na busca daquele que na Terra se convencionou chamar Deus, temos que buscar a resposta meditando a respeito das duas únicas verdades, mesmo se para muitos são difíceis de serem aceitas: A primeira é que em cada ser humano há uma centelha da energia “Daquele que chamamos Deus”, e é por meio dela, a alma, que lhe sentimos a presencia. Mas isso só acontece quando, por perder a esperança diante das derrotas que sofremos em nossas pretensões, o amanhã se torna sombrio, porque inversamente, quando o nosso ego é acariciado com o sucesso das nossas realizações, não espirituais claro, mas materiais: dinheiro, posses, poder etc., se alguém nos disser: “agradeça a Deus que está te ajudando”, imediatamente o nosso instinto responde - mesmo declinando as palavras: Deus não tem nada a ver com isso, o sucesso que estou tendo é o resultado do meu esforço.
Em relação à segunda verdade já lemos a respeito no titulo “Enxertia Divina”.
Quem são, então, os homens que diante da Magnitude da Criação, se atrevem a se julgarem credenciados pela “Preeminência Universal”? Não os racionais, os lógicos ou coerentes, mas os levianos, inconscientes, tão inconseqüentes que no passado, atualmente, e com certeza ainda por um bom tempo no futuro, chacinaram, massacram e ainda assassinarão milhares de seres humanos em nome de Deus.
Mas para ser estouvado ou irresponsável, o homem não precisa tirar a vida de seus semelhantes, ou ser partidário daqueles que o fazem, é suficiente criticar o próximo, julgar que este é incapaz de governar a si mesmo em termos religiosos ou espirituais, se opor a seus desejos - porque em ultima analise são seus direitos, se imiscuir com suas tendências sexuais, lhe extorquir dinheiro ou com eles “negociar” em nome de Deus.
Os abusados, no entanto, não se limitam a isso: digladiam-se entre eles porque uns afirmam que na comunhão o corpo do Cristo esta presente materialmente, enquanto outros revidam dizendo que está presente em espírito, ou que este ato é só um simbolismo da ultima ceia. Muitos se enfrentam porque seu grupo diz que o homem pode pecar, ou porque o Cristo já pagou por todos os pecados do mundo sofrendo na cruz, ou porque quem leva o homem a pecar é satanás, portanto, ele não é responsável pelo mal que pratica, enquanto outras doutrinas alegam que o homem, devido a sua origem animal, ainda carrega muitas imperfeições, e para extirpá-las, deve lutar consigo mesmo.
São incontáveis as divergências. Tem os que acreditam que servir, praticar boas obras, eleva a criatura encaminhando-a ao Reino, enquanto outros afirmam que é Deus que decide quem são os “escolhidos”, mesmo se a razão da escolha, sem duvida, deve ter a ver com este versículo:
Mateus, 6:1-4. “Guardais-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrario, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu”.”Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa”. Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á.
Por outro lado temos credos que, lembrando a lição de humildade de Jesus, afirmam que ser humilde equivale e ser sábio, enquanto outros desdenhosamente repicam com a teologia da prosperidade.
Nesse momento cabe uma pergunta: afinal, quem está certo e quem está errado? Bem, se perscrutamos ao nosso redor, veremos que todos os pais deste mundo, os que não estão mentalmente enfermos, claros, mesmo sendo humanos e por conseguinte imperfeitos, independentemente da periculosidade que seus filhos representam para a sociedade: assassinos, ladrões, estrupadores, etc., continuam os amado mesmo reconhecendo que merecem serem castigados.
Se a resposta for considerada incompleta, insistamos: se todas as religiões se contradizem, quando, por se dizerem franqueadas por Deus, deveriam “oferecer as mesmas verdades”, forçosamente somos levados a deduzir que entre elas há a que está certa e as que estão erradas? Não, todas estão erradas. Mas o erro não reside em suas teologias - porque estas nada mais são do que o reflexo das cores qua cada credo utiliza para desenhar o mesmo Deus, mas no despotismo que cultivam.
Reflexo das cores que são pinceladas não com tintas, mas com palavras, vocábulos inicialmente verbalizados e depois escritos, que sob a luz dos interesses religiosos que se manifestaram nos séculos, transformaram os testos originais da bíblia (depois de terem sido “acertados” sob a batuta do imperador Constantino), nas dezenas de versões que existem atualmente.

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