sexta-feira, 17 de setembro de 2010

XVIII - APRECIAÇÕES DE SEGUIDOR

Einstein: "Creio em Deus que se revela na harmonia ordenada do Universo, e que a inteligência está manifesta em toda a Natureza". Muito lindo! Via Láctea, a galáxia que no universo abriga o Planeta terra e a bíblia. Deus é todo o conhecimento do Universo, que com o som de suas palavras, e a música que isso representa, mesmo que nenhum ser humano possa ouví-la diretamente, criou como um arquiteto todas as coisas na sua ordem, e como um maestro rege todo o seu movimento e harmonia.
Deus então não está na matéria, é o conhecimento, o pensamento e as idéias reunidas em todo o Universo. Tudo que pensamos, Ele pensa, tudo o que sabemos, Ele sabe. Pode nos tocar, assim como o vento toca as montanhas e produz o som e o eco, e por isso é música, a música que ecoa no Universo! E também nos leva através dos sonhos, ao seu mundo, infinito, de onde muitas vezes surgiram as grandes ideias que mudaram a vida da humanidade. É como um grande maestro, que escuta atentamente sua orquestra, ele nos escuta, através de nossas orações. Pode nos moldar a qualquer tempo, conforme sua vontade. Não é material, mas pode estar entre toda a matéria do Universo, confirmando as escrituras sagradas: Ele está no meio de nós". É diante desta paz que o coração se inspira, a alma suspira, as palavras soltam-se e eu vôo uma vez mais...Descobrir o caminho que nos desperta a alma, os sentidos, que nos leva a viajar pelo silêncio, que nos conduz a evolução do espírito, a aprendizagem das emoções, o amadurecimento da alma que por séculos se propaga até ao limiar da perfeição. Sentir é muito mais que tocar, muito para além de imaginar, é um respirar profundo, uma tufada de ar. Nesse espaço exíguo somos a perfeita essência, perfume de mil tempos que seguramos na ponta dos dedos e bebemos dos universos as palavras que se soltam dos lábios que derramam poesia em goles de vida, como se fossemos o mesmo fluxo de energia que queremos mesclar.
Neste barco sem rumo, seguro o leme que dirige o destino. Este não é um oceano qualquer, onde os ventos sopram de norte e inflam as velas. Este mar é feito de nuvens de águas doces e gotas finas, a brisa é um sopro de almas que os véus translúcidos agitam. É nestas águas tépidas que navego, levando este barco,afagando-me nos sentires, fabricando sonhos! Regressar é uma tarefa mais árdua,depois de ver a beleza de outros lugares, não há vontade de voltar à cárceres deste ínfimo corpo onde a alma se aprisiona em troca de rotinas banais que não queremos jamais. Continuo a escrever, inventando outras letras com muitas cores...Doces com aromas etéreos de outros mundos. Entorno as páginas, perfumes de brisas novas que me transportam para o paraíso em silêncio azul.

Não somente os cientistas relatam, mas nós também ficamos fascinados ante a constatação da harmonia, equilíbrio e beleza do Universo. Tudo parece ter sido montado para que, da profundeza abissal de um oceano primordial, o vácuo quântico, devessem surgir partículas elementares, depois da matéria ordenada e, finalmente, a matéria complexa da vida! Os sinais de Deus estão por toda parte! Na voz dos animais, no murmurío dos rios, no vento, na noite escura, no canto do ruxinhol, nos segredos das florestas, na ampliação do Universo, no borbulhar das águas claras, na fúria dos vulcões, na força dos vendavais...No sangue que corre em nossas veias, na nossa alma, no nosso coração, no ar que respiramos, na energia do sol que nos ilumina e aquece, no sabor das frutas, no perfume das rosas, na beleza do arco íris, nas cores do arrebol. Deus, a suprema perfeição, nos deu tudo isso de presente para que possamos sentir em todas as horas de nossa vida o sopro Divino Sua eterna criação. Não seria maravilhoso, se num todo, pudéssemos renascer, irmanar-nos, emocionar-nos, puxar do fundo da alma o amor de orar no templo eterno da Natureza? Fazer surgir o espetáculo dos mundos a percorrer o infinito, nos esplendores da vida que se expande em sua superfície! Na vista dos horizontes variados: planícies, vales, montanhas e mares que a nossa morada terrestre nos oferece! Por toda a parte, à luz brilhante do dia ou sob o manto constelado das noites, à margem dos oceanos tumultuosos...E assim na solidão das florestas, os primeiros raios de sol que penetram entre as árvores, saber nos recolher, ouvir as vozes da natureza e os sutis ensinamentos que murmuram ao ouvido daqueles que frequentam suas solidões e estudas seus mistérios. E da dor refazer-se, ao vestir a seda do amor, invertendo no rosto os lábios que se exprimem através dum leve sorriso. Neste momento os dedos agitam-se, recriando o vazio do coração, preenchendo-o, dando lhe a vida que a escuridão lhe havia tirado. Ganha forma das luzes que clareiam o dia! Nasce um novo mundo, lugar onde o silêncio se pode escutar por detrás das melodias que pairam no ar. Um lugar onde os sonhos são a mais pura realidade, onde os ventos sopram suaves e a luz será presença constante, mesmo na noite mais escura.

Fico em silêncio, seguro nas mãos a caneta, a folha branca de papel, que aguarda pacientemente que nela deposite os riscos com que escrevo uma nova historia. Espera ser tatuada de sentimentos, de palavras! Deixo-a resvalar...Atrás de si,derrama-se um rastro de tinta fresca e húmida, que a folha, na sua ansiedade, absorve suavemente. A vida, entre dimensões, revela a verdadeira essência da alma. Neste lugar, neste momento, em que o tempo se move em ritmos diversos, refazemos os sentidos e libertamos em nós a luz, como feixe que pelo espaço nos conduz, cruzando a escuridão, numa explosão inimaginável de alegria...Num brilho ofuscante de faíscas que condensam o as em pequenas gotículas, desaguando na margem de novos mundos! Nesta epopeia somos apenas leitores, admiradores, que se alimentam das suas mãos aqui deposita com carinho! Ficam as palavras que controem livros, que alçam velas em caravelas e percorrem mares nunca antes navegados. Preenchemos os vazios nas memórias que mantêm a nossa alma. Ainda há tanto o que ler, ainda há esperança que acalenta o tempo e as estações que amadureçam o homem, fazendo dele mais sábio, mais humano e sensível. Somos como um grão de areia, mas aqui, neste meio de aprendizado, de beleza, sossegamos o nosso espírito, olhamos as estrelas dentro de nós, e, mesmo nas noites de tormenta, percebemos que para lá das nuvens há um Universo inteiro, cheio de luz e brilho que nos abraça que nos aconchega! Este tempo é um momento de pausa,do que nós é ensinado. É um tempo de reflexos, pensamentos e sensações, que se suspendem de fios imaginários presos às estrelas do firmamento. Na melodia das palavras, perseguimos o ritmo da cadência das frases, dançamos em silêncio, embalamos nossa alma, sem perder um único acorde.

Descrevo esta historia após ler O UNIVERSO, O TEMPLO NO QUAL O HOMEM ORA...Baseada na historia de Paramahansa Yogananda. É sobre o almiscareiro, um animal que vive nos inacessíveis altos picos do Himalaia. Diz-se que, quando ele alcança certa idade, começa a sentir o cheiro penetrante que exala no ambiente ao seu redor. Com o passar do tempo, uma descarga imensa de sensações, um instante de puro e pleno transe, despertam outros sentidos com o aroma delicioso. Caminha para lá e para cá, pulando, correndo, farejando sob as árvores e furnas, preenchendo-se da névoa dos incensos que o ar liberta, buscando o perfume em toda parte, Ás vezes,por muitas semanas busca loucamente a fonte da tão persistente fragrância. Sentindo-se incapaz de localizar o perfume tantalizante, que lhe castiga a alma, ele torna-se extremamente inquieto. Assim, prossegue na busca, porem, adentra a um estado tal de agitação, e num esforço último e desesperado de encontrar a fonte da essência enloquecedora. No desejo de deglutir a luxúria que o devora, acaba saltando dos altos picos alcantilados do Himalaia e finda por cair para a morte no vale que se estende abaixo. Os caçadores, achando os cadáveres, retiram a almejada bolsa de almíscar e produzem o perfume que é consumido em todo mundo. Diz-se que ainda nos dias de hoje, o almiscareiro é aprisionado e permanece em cativeiro por pelo menos 15 anos para que se extraia esta essência que se transforma em perfume. Perde a própria vida, procurando o que está dentro de si mesmo. Também perde a sua liberdade aprisionada pelo homem. Por que o ser humano tem o habito de imaginar o futuro baseado na capacidade de possuir coisas? Onde está buscando o seu perfume? Não seria aquele que contem o doce e inigualável aroma do amor-sabedoria? Aquele inebriante exalar que conduz o ser humano ao seu estado de êxtase que é o de se aproximar e conviver com a essência do Criador a pulsar no seu interior? Há no tempo um instante de suspensão, entre a noite escura e o claro do dia, entre o inspirar e o aspirar, entre o abrir e o fechar dos olhos...Nesse momento de inércia paramos o tempo, dilatamos o espaço. Nesse pedaço perdido entre movimentos divergentes, há um lugar para a eternidade, uma porta que se abrem é lá que me sento que espero o regresso dos dias, a brisa do vento que me leva sempre a voar, sonhar e amar.

domingo, 28 de março de 2010

( XVII ) CONSIDERAÇÕES

Enquanto na Germânia do imperador Carlos V a Reforma de Lutero se fortalecia, no reino da Inglaterra, distante de Roma más não das fogueiras punitivas idealizadas pela inquisição, sob a bandeira do protestantismo se alinhavam inúmeras religiões que surgiam a partir de discordâncias com o Anglicanismo. Da Inglaterra, passando pela França de Francisco I que forçou o exílio de Calvino, chegaram à Escócia de John Knox, invadiram a Europa, e finalmente chegaram ao Novo Mundo levadas por aqueles que haviam sido forçados a abandonar o solo pátrio devido ao absolutismo religioso.
Se o leitor, agora, desviar por alguns instantes a sua atenção desse texto, endereçando-a aos tempos em que o homem de Neanderthal começou a sepultar seus mortos, passando sucessivamente ao hinduísmo - à primeira religião do orbe terrestre a reconhecer em Brahma a fonte do todo e a discursar metafisicamente a respeito do que o homem devia fazer para salvar sua alma, continuando até os cultos aos deuses e aos mortos dos Egípcios, seguindo para o budismo e zoroastrismo, para depois chegar ao judaísmo, cristianismo e islamismo, em breves instantes concluirá que a humanidade sempre buscou um meio: doutrina, credo ou religião, que lhe permitisse estabelecer através do seu EU interior, um dialogo, mesmo se em verdade sempre foi um monologo, com aquele que independentemente do nome que lhe é dado, é o “Senhor do Universo”.
Um exemplo deste monologo o tivemos quando o papa Joseph Ratzinger, em maio de 2006, foi visitar Auschwitz e Birkenau (locais em que durante a segunda guerra mundial o exercito Alemão chacinou milhares de hebreus), e disse: Quantas perguntas nos são impostas por este local! Porque tem que continuar emergindo estas indagações? Onde estava Deus naqueles dias? Porque ele calou? Como ele tolerou este excesso de destruição, este triunfo do mal? E citando alguns versos do Salmo 43 verbalizou: Acordai, Senhor! Por que dormis? Despertai! Não nos rejeteis continuamente! Por que ocultai a vossa face e esqueceis nossas misérias e opressões? Nossa alma está prostrada no pó. Levantai-vos em nosso socorro e livrai-nos pela vossa misericórdia.
Nos não podemos perscrutar o segredo de Deus – só podemos observar seus fragmentos, portanto, erraríamos se almejássemos ser juizes de Deus e da história, porque neste caso não estaríamos defendendo o homem, mas contribuindo para a sua destruição. Não, definitivamente, devemos permanecer com o humilde mas insistente grito em direção a Deus: Acorda! Não se esqueça da tua criatura, o homem. E o nosso grito endereçado a Deus, concomitantemente, deve ser um brado que penetre também no nosso coração, para que em nos acorde a oculta presença de Deus – de modo que aquele poder que Ele depositou em nossos corações não seja coberto e sufocado pela lama do egoísmo, pelo medo dos homens, pela indiferença e oportunismo.
Fonte:www.chiesa.espressonline.it

Esta perene busca, contudo, mesmo se alguns acreditam que a completaram, estão muito equivocados, porque a humanidade continua indescritivelmente muito distante do momento em que, por ter conseguido finalmente se libertar de suas imperfeições, poderá se despedir definitivamente dos corpos que lhe permitem viver nas adjacências deste planeta, encarnada ou desencarnada, e rumar para outras paragens buscando as novas experiências que lhe consentirão prosseguir no seu aperfeiçoamento.
Mesmo neste XXI século da era cristã, é insignificante a parcela da humanidade que, em estrita correlação com a sua estatura moral e espiritual, tem o privilegio de estar um pouco acima do nível de saber de seus semelhantes nas questões que se relacionam com o divino. Mesmo assim, a falta de humildade que lhe é peculiar, sejam eles quem forem, é o obstáculo que a impede, e continuará impedindo, enquanto permanecer priorizando os valores materiais em detrimento dos espirituais, ou seus interesses escusos em prejuízo daqueles dos seus semelhantes, de galgar novos degraus em direção “Daquele que tudo vê”. Porque se tivesse crescido um pouco mais, entenderia que “Deus” não necessita, aqui na Terra ou em qualquer outro lugar do Universo, de “soldadinhos de chumbo” para lhe servirem de guarda costa, ou forças especiais para educar com a violência os hereges do passado ou os infiéis de hoje, porque, alem de serem todos suas criaturas, Ele é o único que tudo pode em si mesmo.
Os que se julgam escolhidos - ainda que seus relatos sejam verdadeiros - lhe é inconcebível entender, ou se entendessem, aceitar, que em inúmeros momentos foram, e ainda são – independentemente da importância ou seriedade que atribuem ao caso - meros joguetes daqueles que residem além do horizonte do mundo, mesmo se para alguns estes são o espírito santo e para outros a própria palavra de Deus.
Quantos indivíduos se dedicam de corpo e alma ao serviço eclesiástico ou religioso porque “ouviram um chamado” - que interpretam como sendo “a voz de Deus” - lhes pedindo para seguir este caminho? Ou então tomam esta ou aquela decisão – e a partir dela praticam o bem ou o mal - porque “esta voz” – a grande maioria das vezes uma manifestação de “espíritos não benfazejos” – insistiu para que assim fizessem? Allan Kardec no livro dos médiuns, capitulo das evocações, escreve:
Um senhor tinha, em seu jardim, um ninho de pintassilgos pelos quais se interessava muito; um dia, o ninho desapareceu; estando seguro de que ninguém da casa era o culpado do delito, como ele próprio era médium, teve a idéia de evocar a mãe dos filhotes; ela veio e lhe disse em bom francês: “Não acuse ninguém e sossega quanto a sorte de meus filhotes; foi o gato que, saltando, derrubou o ninho; tu o encontraras sob a relva, assim como os filhotes que não foram comidos. “Verificação feita, a coisa foi constatada exata. E preciso disso concluir que foi o passaro que respondeu? Não, seguramente; mas simplesmente um espírito conhecedor da história. Isso prova o quanto é preciso desconfiar das aparências.
Evocai um rochedo e ele vos responderá, porque há sempre uma multidão de espíritos prontos para tomarem a palavra para tudo.
Um episódio pessoal, ocorrido há muitos anos, é outro bom exemplo para aclarar o que está sendo exposto: Em duvida diante de uma decisão que devia ser tomada, e sem a experiência que o evento exigia, resolvi evocar um “espírito de luz” para que me ajudasse. Recebida a resposta, como esta de certa forma contrariava o bom senso, resolvi ir mais fundo e, fazendo uma prece, evoquei a Nossa Senhora. Segundos depois ela estava na minha frente, linda, inconfundível! Cai de joelho e, com lagrimas nos olhos, orei.
Daquele dia em diante, sempre que pensava no que acontecera, ouvia a sua voz. Sim, havia algo errado! Alguns dias depois resolvi tirar a questão a limpo: ouvida novamente, perguntei: como a mãe de Jesus tem tempo para perder comigo, se com certeza, por ser ela quem é, tem outras tarefas mais importantes? Sua resposta à primeira vista foi muito cortes: “Fui a mãe de Jesus, não posso negar, mas aconteceu porque fui a escolhida, todavia, continuo sendo uma mulher como todas as demais”. Naquele momento, como havia planejado acrescentei: Meu Deus, de a ela, por favor, mesmo se não quiser, um milhão de vezes mais daquilo que ela tenta dar para mim! Se for maldade, que seja levada para as trevas, e se for luz, que esta lhe seja ampliada. A resposta foi imediata...Uma infinidade de execrações que a educação impede que sejam aqui repetidas.
Depois desse exemplo - uma repetição dos milhares de aparições que o cristianismo relata que acontecem ao redor do mundo, e considerando ainda que, enquanto no Vaticano é dito: dentro deste recinto falamos com “Deus”, os evangélicos afirmam que nos seus templos discorrem com “Jesus”, deixamos que o leitor remate por si mesmo o que deve acontecer nas terapias do tipo “xô capeta”, principalmente quando são condimentadas com a participação daquelas “mães de santo” que em suas tarefas diárias, em troca de remuneração, inserem as que se destinam a azucrinar seus semelhantes
Sim, há sempre uma multidão de espíritos desencarnados prontos para fazer o mal, ou, na melhor das hipóteses, para aproveitar todas as oportunidades para se “divertirem”, como, alias, acontece entre os espíritos encarnados, especialmente aqueles que diariamente são merecedores de destaque nas paginas dos jornais.
É impensável, vulgar, exclusivamente digno de obtusos, acreditar que Deus - utilizando um dos nomes que parte da humanidade lhe atribui, quando melhor seria, na auxencia de palavras mais apropriadas nos dicionários do mundo, chamá-lo “Inteligência Suprema do Universo”, do cerne da interminável vastidão cósmica, com seus bilhões de sois e sistemas planetários, dos quais muitos são moradas de outros seres, esteja disponível ou se dedique com exclusividade a apascentar os homens que habitam este Planeta.
É a essa “Inteligência Cósmica”, que jamais qualquer ser deste planeta viu ou verá, que a mesquinhez humana se atreve a lhe imputar a mesma “irracionalidade” que ainda é portadora, irracionalidade esta que em muitas ocasiões até supera a que rege a conduta das feras mais selvagens.
Como, diante da imensidão cósmica, e dos trilhões de corpos celestes que nela orbitam, o homem, mais uma vez seja ele quem for, se atreve a se julgar com os méritos necessários para exercer o cargo de preposto daquele que o criou, ou, pior ainda, acreditar que esta “Força Universal Toda Sábia”, necessita recorrer a formas de vida rudimentares, conseqüentemente de inteligência primarias - os homens - para auxiliá-la?
Sim, se quisermos entender porque o homem, ao longo dos séculos, tem perseverado na busca daquele que na Terra se convencionou chamar Deus, temos que buscar a resposta meditando a respeito das duas únicas verdades, mesmo se para muitos são difíceis de serem aceitas: A primeira é que em cada ser humano há uma centelha da energia “Daquele que chamamos Deus”, e é por meio dela, a alma, que lhe sentimos a presencia. Mas isso só acontece quando, por perder a esperança diante das derrotas que sofremos em nossas pretensões, o amanhã se torna sombrio, porque inversamente, quando o nosso ego é acariciado com o sucesso das nossas realizações, não espirituais claro, mas materiais: dinheiro, posses, poder etc., se alguém nos disser: “agradeça a Deus que está te ajudando”, imediatamente o nosso instinto responde - mesmo declinando as palavras: Deus não tem nada a ver com isso, o sucesso que estou tendo é o resultado do meu esforço.
Em relação à segunda verdade já lemos a respeito no titulo “Enxertia Divina”.
Quem são, então, os homens que diante da Magnitude da Criação, se atrevem a se julgarem credenciados pela “Preeminência Universal”? Não os racionais, os lógicos ou coerentes, mas os levianos, inconscientes, tão inconseqüentes que no passado, atualmente, e com certeza ainda por um bom tempo no futuro, chacinaram, massacram e ainda assassinarão milhares de seres humanos em nome de Deus.
Mas para ser estouvado ou irresponsável, o homem não precisa tirar a vida de seus semelhantes, ou ser partidário daqueles que o fazem, é suficiente criticar o próximo, julgar que este é incapaz de governar a si mesmo em termos religiosos ou espirituais, se opor a seus desejos - porque em ultima analise são seus direitos, se imiscuir com suas tendências sexuais, lhe extorquir dinheiro ou com eles “negociar” em nome de Deus.
Os abusados, no entanto, não se limitam a isso: digladiam-se entre eles porque uns afirmam que na comunhão o corpo do Cristo esta presente materialmente, enquanto outros revidam dizendo que está presente em espírito, ou que este ato é só um simbolismo da ultima ceia. Muitos se enfrentam porque seu grupo diz que o homem pode pecar, ou porque o Cristo já pagou por todos os pecados do mundo sofrendo na cruz, ou porque quem leva o homem a pecar é satanás, portanto, ele não é responsável pelo mal que pratica, enquanto outras doutrinas alegam que o homem, devido a sua origem animal, ainda carrega muitas imperfeições, e para extirpá-las, deve lutar consigo mesmo.
São incontáveis as divergências. Tem os que acreditam que servir, praticar boas obras, eleva a criatura encaminhando-a ao Reino, enquanto outros afirmam que é Deus que decide quem são os “escolhidos”, mesmo se a razão da escolha, sem duvida, deve ter a ver com este versículo:
Mateus, 6:1-4. “Guardais-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrario, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu”.”Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa”. Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á.
Por outro lado temos credos que, lembrando a lição de humildade de Jesus, afirmam que ser humilde equivale e ser sábio, enquanto outros desdenhosamente repicam com a teologia da prosperidade.
Nesse momento cabe uma pergunta: afinal, quem está certo e quem está errado? Bem, se perscrutamos ao nosso redor, veremos que todos os pais deste mundo, os que não estão mentalmente enfermos, claros, mesmo sendo humanos e por conseguinte imperfeitos, independentemente da periculosidade que seus filhos representam para a sociedade: assassinos, ladrões, estrupadores, etc., continuam os amado mesmo reconhecendo que merecem serem castigados.
Se a resposta for considerada incompleta, insistamos: se todas as religiões se contradizem, quando, por se dizerem franqueadas por Deus, deveriam “oferecer as mesmas verdades”, forçosamente somos levados a deduzir que entre elas há a que está certa e as que estão erradas? Não, todas estão erradas. Mas o erro não reside em suas teologias - porque estas nada mais são do que o reflexo das cores qua cada credo utiliza para desenhar o mesmo Deus, mas no despotismo que cultivam.
Reflexo das cores que são pinceladas não com tintas, mas com palavras, vocábulos inicialmente verbalizados e depois escritos, que sob a luz dos interesses religiosos que se manifestaram nos séculos, transformaram os testos originais da bíblia (depois de terem sido “acertados” sob a batuta do imperador Constantino), nas dezenas de versões que existem atualmente.

( XVI ) TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

O texano Kenneth Hagin, nascido em 1917, era uma criança doente. Desde os nove anos ficou confinado na casa do avô. Aos 16, desenganado pelos médicos, infeliz e preso a uma cama, tinha poucas esperanças de ver sua vida melhorar. Um ano depois, em agosto de 1934, Hagin teve uma revelação. Ele de repente compreendeu o significado de um versículo do Evangelho de São Marcos. A passagem do Novo Testamento dizia: “Tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebeste, e assim será convosco”. Hagin então ergueu as mãos para o céu e agradeceu a Deus pela cura, mesmo sem ver sinal de melhora. Então se levantou da cama. Estava curado.
A mensagem que Hagin popularizou por meio de mais de 100 livros é clara: Deus é capaz de dar o que o fiel deseja. Basta ter fé e acreditar que as próprias palavras têm poder. Desse modo, para os verdadeiros devotos nunca faltará dinheiro ou saúde.
Essa doutrina ficou conhecida como a “Teologia da Prosperidade” e anos depois foi incorporada por varias igrejas. Ela é central no mais impressionante fenômeno religioso do Brasil contemporâneo - e no mundo: a explosão evangélica.
No começo, essa explosão se deu em silencio, praticamente ignorada pelas classes medias. Os templos evangélicos surgiram nas cidadezinhas perdidas e nas periferias miseráveis das metrópoles. Já não é mais assim.
No primeiro dia de 2004 a igreja Pentecostal Deus é Amor inaugurou no coração de São Paulo o seu novo templo. A obra tem tamanho de shopping center, arquitetura de gosto duvidoso e comporta 22 mil pessoas sentadas. É cinco vezes maior que a católica Catedral de Sé, lá perto.
Há meio século os evangélicos são a religião que mais cresce no país. Nos últimos 20 anos mais que triplicou o numero de fieis: de 7.8 milhões de pessoas em 1980 para 26.4 milhões em 2001, um pulo de 6.6% para 15.6% da população brasileira. Em algumas cidades foram criados vagões de trem exclusivos para crentes. Nesses as pessoas podem viajar ouvindo pregações bíblicas. Em outras, não parece longe o dia em que eles representarão mais de 50% dos habitantes. Com mais de 400 anos de atraso, finalmente estamos sentindo os efeitos da Reforma protestante que varreu a Europa no século 16.
Evangélicos, é importante esclarecer, é a mesma coisa que protestantes. As duas palavras são sinônimas. Ou seja, evangélicas são praticamente todas as correntes nascidas do racha entre o teólogo alemão Martinho Lutero e a igreja católica em 1517.


Lutero abriu a primeira fenda no até então indevassável poder papal sobre as almas do ocidente. A ele seguiram outros. Na Inglaterra, o rei Henrique VIII, criou sua própria dissidência do catolicismo – depois batizada de anglicanismo – só porque o papa não queria que ele se divorciasse e casasse de novo. Na Suíça, Ulrico Zwinglio e João Calvino aprofundaram as reformas de Lutero. Zwinglio pregava o principio que fundamentaria todo o movimento: o cristão deve seguir apenas a Bíblia - os católicos aceitam influencias de teólogos como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Já Calvino foi o responsável pela introdução do puritanismo, que combinava regras rígidas de conduta com uma fervorosa dedicação ao trabalho. No começo do século XX o sociólogo alemão Max Weber publicou o texto clássico “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, no qual atribuiu a essa invenção de Calvino o sucesso do capitalismo nos países evangélicos.
Todos estes movimentos estimulavam o fim do monopólio da igreja sobre a interpretação da Bíblia. Cabia a todo e qualquer cristão ler as Escrituras e tirar delas o que quisesse. Os protestantes recusavam a idéia de que um único líder – o papa – deveria guiar os rumos da religião. Foi isso que começou a fragmentação do movimento em diversas correntes, com pequenas diferenças doutrinarias. Surgiram os batistas, os metodistas, os presbiterianos, etc.
Mas o Brasil colonial passou quase imune a avalanche protestante. Houve apenas algumas exceções, como os calvinistas franceses e holandeses que invadiram o país – o primeiro culto evangélico por estas terras foi celebrado por franceses no Rio de Janeiro em 1557 - só 57 anos depois da missa católica inaugural. Era proibido realizar cultos de qualquer religião que não os católicos no território português.
A liberdade religiosa no Brasil só veio com a independência, na Constituição de 1824, ainda que impondo restrições de que as reuniões acontecessem em locais que não tivessem “aparência exterior de templo”. No mesmo ano, alemães fundaram a primeira comunidade luterana do Brasil. Logo depois chegaram as correntes missionárias - como os metodistas - dispostas a pregar nas ruas para salvar almas. Eles caíram nas graças da elite intelectual republicana que, impressionada com a “ética protestante”, defendia a presença de evangélicos como condição para a modernização do País.
Mas os protestantes que prosperavam no Brasil pouco tinham a ver com a tal ética protestante de Weber. No inicio do século XX a fundação de duas igrejas seria decisiva para definir o perfil evangélico nacional: a Congregação Cristã no Brasil - inaugurada em São Paulo pelo italiano Luigi Francescon em 1910, e a Assembléia de Deus - aberta um ano depois em Belém pelo sueco Gunnar Vingren e Daniel Berg. Apesar da origem européia eles chegaram ao país via Estados Unidos onde haviam se envolvido com uma nova corrente protestante, o pentecostalismo, um grupo que crescia em popularidade por lá desde a virada do século.
Começou ai o que o sociólogo Paul Freston chama de “a primeira onda do pentecostalismo brasileiro”. O movimento era desaprovado tanto por católicos quanto pelos protestantes “históricos” como são conhecidas as correntes diretamente ligadas a Lutero e Calvino. Nem uns nem outros gostavam da principal característica da doutrina pentecostal: a exacerbação dos poderes sobrenaturais do Espírito Santo.
A palavra “pentecostalismo” vem de uma passagem da Bíblia que diz que, num dia de Pentecoste - a páscoa judia - o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos e começou a operar milagres. O mais notável desses poderes é a capacidade que Deus tem de curar imediatamente qualquer problema de saúde – daí as cenas de aleijados abandonando muletas e míopes pisando nos óculos.
O pentecostalismo cresceu na classe baixa, promovendo cultos de adoração fervorosa e improvisada, bem dissonante dos protestantes tradicionais, tão formais quanto contidos.
Para participar das novas congregações os fieis eram obrigados a se submeter a rígidas normas comportamentais. Os pentecostais eram os “crentes” estereotípicos: mulheres de cabelos compridos e saia e homens de terno e Bíblia na mão. As palavras essenciais para entender suas rotinas de vida são o asceticismo, ou a recusa de usufruir os prazeres da carne, e sectarismo, o isolamento do restante da sociedade. Por trás delas está a idéia de que o cristão deve se manter concentrado em Deus. Só assim ele pode evitar que o diabo ganhe espaço na sua vida. Para os pentecostais o mundo é simples: o que não é de Deus é do Diabo.
A Deus é Amor, aquela que inaugurou um megatemplo no centro de São Paulo, é uma das mais rigorosas entre as pentecostais. Ela proíbe freqüentar praias, praticar esportes ou participar de festas. As mulheres é vetado cortar o cabelo e depilar. Crianças com mais de sete anos não podem jogar bola graças a um versículo bíblico que diz: “desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança”. Tantas regras tem compensação: para os pentecostais o melhor da vida está reservado aos fieis depois da morte.
Até a década de 50 esse modelo reinou sozinho no pentecostalismo nacional. Fez sucesso, mas ficou restrito a grupos relativamente pequenos.
A chegada da “segunda onda”, no entanto, traria uma novidade. É o que se convencionou chamar de “neo-pentecostalismo”.
Em 1951 desembarcou aqui a igreja do Evangelho Quadrangular, inaugurando no país o pentecostalismo de costumes liberais. “Todas essas igrejas que fazem sucesso hoje são nossas filhas, netas ou bisnetas”, diz o pastor Nelson Agnoletto do conselho nacional da Quadrangular. De fato, inovações como os hinos com ritmos populares, a forte utilização do radio e regras de comportamento menos duras - todos ingredientes indispensáveis do “evangelismo de massas” - foram praticamente importados pela quadrangular uma vez que essa fora fundada nos Estados Unidos em 1923.
Monique Evans, Gretchen e Marcelino Carioca resumem bem o neo-pentecostalismo, porque agora podem se considerar “crentes”. Para isso algumas adaptações aconteceram: saíram os homens de terno e as mulheres de pelos nas pernas e entram pessoas que se vestem com roupas comuns e não se animam a seguir normas rígidas de conduta
A primeira inovação foi riscar do mapa o asceticismo, o sectarismo e a crença de que a melhor parte da vida está reservada para o paraíso. “A preocupação dos neopentecostais é com esta vida. O que interessa é o aqui e o agora”, afirma o sociólogo Ricardo Mariano, autor de “Neopentecostais – Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil”
Para os neopentecostais, os homens não são responsáveis pelos atos de maldade que cometem: é o Diabo que os leva a pecar. Numa seção de descarrego da igreja Universal o pastor explicou que se o fiel enfrenta um problema há mais de tres meses é provável que esteja carregando um encosto. “Se a dificuldade completar um ano, daí não há mais duvidas: a culpa é do Demonio”, disse para a congregação. Ele não se referia só a entraves financeiros ou comportamentais. A receita vale para tudo, inclusive para doenças incuráveis. Assim, expulsar o Demonio do corpo é a receita única para todos os males, de casamento infeliz até câncer no pulmão. O ritual é feito aos gritos de “sai capeta”, às vezes com lacrimas escorrendo pelo rosto e transes que terminam no exorcismo. Os cultos tornaram-se mais ativos, incluindo aplausos para Jesus e musica Gospel.
Mas a inovação mais profunda do neo-pentecostalismo foi a aplicação da teologia da prosperidade. Graças a ela o neo-pentecostalismo ganhou o apelido de “fé de resultados”.
“A teologia da prosperidade faz o fiel encarar Deus como um Office-boy”, diz o cientista da religião e pastor Paulo Romeiro, autor de “Supercrentes – O Evangelho Segundo os Profetas da Prosperidade”. “O crente dá ordens e determina o que pretende. Não há qualquer reconhecimento das fragilidades humanas e de suas necessidades em relação a um Deus superior”, afirma Romeiro.
Os pregadores desses templos gritam alto e bom tom que os fieis que separam - logo após receber - 10% de sus ganhos e os doam a Deus, podem exigir Dele o que querem porque ele vê que estes fazem a sua parte, mas aqueles que mesmo pagando o dizimo não o fazem de imediato, já não tem o mesmo direito.
No Brasil, alem da Universal, a Renascer em Cristo, a Sara Nossa Terra e a Internacional da Graça de Deus adotaram a teologia da prosperidade.
A força da enxurrada com que o neo-pentecostalismo cresceu desorganizou todo o protestantismo. “Há uma verdadeira perda de identidade no movimento evangélico mundial. O pentecostalismo flexibilizou suas exigências comportamentais e até os protestantes históricos passaram a aceitar a participação mais ativa do fiel no culto e algumas manifestações sobrenaturais”, afirma o pastor batista Joaquim de Andrade, pesquisador da

Agencia de Informações da Religião. Mais e mais, boa parte do mundo protestante aceita a teologia da prosperidade.
A onda de mudanças foi bater até onde a Reforma de Lutero não tinha chegado: nas praias do catolicismo. A influencia neopentecostal sobre a renovação carismática católica é tão grande que seu maior expoente no Brasil, padre Marcelo Rossi, é acusado de ter gravado hinos religiosos tirados de templos evangélicos.
Mas por que cada vez mais pessoas abandonam suas religiões para tornarem-se evangélicas? Nos anos 60 a nova religião era vista como uma forma de migrantes de zonas rurais enfrentarem a falta de valores e regras da sociedade moderna e estabelecerem relações de solidariedade na metrópole. Demorou dez anos para essa hipótese ser desacreditada por estudos que mostraram que as igrejas eram compostas igualmente pelos pobres nascidos e viventes na cidade e no campo.
Houve espaço para teorias conspiratórias: o avanço evangélico seria um plano dos Estados Unidos - ou do Diabo - para dominar a América Latina. A hipótese foi defendida a serio pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, que na década de 80 enviou memorando ao Vaticano, citado no livro de Mariano, afirmando que a CIA, aliada à direita brasileira, acelerava a “expansão dessa religião alienante no continente para frear a proliferação da igreja católica progressista”. Mas esta explicação não convenceu ninguém e o avanço neopentecostal exigiu um novo foco nos estudos.
Em seu mais recente trabalho, o ainda não publicado “Analise Sociológica do Crescimento Pentecostal no Brasil”, Mariano afirma que as motivações para a conversão estariam nas soluções mágicas oferecidas. “Uma grande parcela da população não tem acesso ao serviço de saúde – e, quando tem, recebe atendimento precário e mal entende os médicos. É muito mais fácil, e faz mais sentido, acreditar que os problemas são causados pelo demonio e se tratar na igreja”, afirma o sociólogo.
Não é apenas a questão medica que está em jogo. A dualidade entre Deus e o diabo é uma das mais eficientes respostas para a eterna pergunta sobre como é possível existirem tantas coisas ruins. Um presidiário pode culpar a influencia do Demonio pelo passado violento – uma explicação para o sucesso da religião nas prisões. Essa dualidade também pode estar na raiz da população evangélica entre os ex-viciados em drogas – e de sua comprovada eficiência na luta contra o vicio. O apelo pode efetivamente ajudar ex-criminosos e ex-viciados a deixarem seus “maus hábitos” para trás. Com isso, os neopentecostais respondem satisfatoriamente às questões dos nossos tempos – coisa que outras religiões nem sempre conseguem fazer.
Juntando tudo, o que se tem é uma religião que escancara uma ambição materialista e imediata na relação com Deus. Um apelo e tanto, que parece ter especial atração para os mais pobres. Estaríamos, portanto, diante de uma mudança naquilo que as pessoas esperam da experiência religiosa? “Não”, responde o estudioso de religião Antonio Flávio Pierucci da Universidade de São Paulo. “A maior parte das religiões tem este viés materialista. As pessoas sempre rezaram com o objetivo de pedir e receber algo. A diferença é que os evangélicos assumem essa faceta sem se envergonhar”.
Seria injusto, no entanto, listar apenas explicações sociológicas para justificar a onda de conversões. Poucas religiões têm tanta disposição para atrair fieis como os evangélicos. Templos são abertos nos mais distantes rincões e pastores dedicam-se com fervor. As igrejas estão à frente das demais no entendimento de que evangelizar é como convencer um consumidor a comprar. “Os depoimentos de fieis na TV e no radio são o apelo de marketing para demonstrar a eficiência dos serviços” , diz Ari Pedro Oro, antropólogo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e organizador do livro “igreja Universal do Reino de Deus”. As igreja seduzem com um produto atraente e oferecem um bom serviço. São religiosamente adeptas da mais pura e simples mentalidade empresarial.
Em novembro de 2003, um evangélico foi ao programa do Ratinho pedir a devolução dos dízimos que havia dado à igreja. Argumentava que o pastor lhe prometera prosperidade em troca de dinheiro. Sem melhorar de vida, o fiel, como se fosse um consumidor lesado, foi ao Ratinho pedir o dinheiro de volta.

Essa historia ilustra de modo brilhante a relação que as neopentecostais criaram com seus fieis-clientes. Elas prestam um serviço e eles pagam. É bom lembrar que dar dinheiro a Deus, seja através da caridade ou de doações, é parte da doutrina de diversas religiões, incluindo todas do braço judaico-cristão. Com a teoria da prosperidade, no entanto, o dinheiro ganhou nova função. Agora é preciso dar para receber. Num de seus livros, Edir Macedo, o líder da Universal, explica que devemos formar uma “sociedade com Deus”. “O que nos pertence - nossa vida, nossa força, nosso dinheiro - passa a pertencer a Deus; e o que é d´ Ele - as benças, a paz, a felicidade, a alegria, tudo de bom - passa a nos pertencer afirma o bispo”.
É uma leitura polemica do Evangelho. A idéia de que dar dinheiro é parte de uma relação de troca com Deus desperta calafrio em muitos religiosos. É uma contradição. A reforma protestante começou justamente porque Lutero se levantou contra a venda das indulgências”, diz o pastor Paulo Cezar Brito, líder da igreja Evangélica Maratana, uma pentecostal que rejeita a teologia da prosperidade.
“Templo é dinheiro”, diz a maldosa adaptação do ditado popular. “Deus é o caminho e Edir Macedo é o pedágio”, diz outra. Na cabeça de muita gente as igrejas evangélicas são ótimas opções de carreira para quem pretende enriquecer facilmente. Não dá para negar que muitos realmente ganharam dinheiro com a fé alheia – em especial os lideres das grandes igrejas. Como em qualquer empresa moderna, pastores hábeis que trazem muito dinheiro para a igreja ganham bem – ninguém confirma a informação, mas comenta-se que alguns salários se parecem com os de astros de futebol, na casa das varias dezenas de milhares de reais. Mas estas afirmações escondem também um preconceito. Em termos legais, não há diferença entre um templo evangélico e qualquer outro local de culto religioso. A constituição garante a todos – evangélicos, católicos ou budistas – a mesma isenção de vários tributos, entre eles o IPTU e o Imposto de Renda.
Alem disso, o crescimento da concorrência faz ser cada vez mais difícil sobreviver entre tantas denominações evangélicas. Calcula-se que uma congregação precise ter no mínimo 50 integrantes para recolher dízimos e doações suficientes para cobrir as despesas mínimas, como aluguel e contas da luz e água. Nessas horas, ser a religião dos pobres não é vantagem. Por isso, cada denominação procura seu nicho de atuação.
A Assembléia de Deus prefere abrir templos dentro de bairros isolados, enquanto a Universal opta pelas grandes vias de acesso – uma decisão que pouco tem a ver com a fé, segue mais a lógica da competição de qualquer mercado capitalista.
O maior país católico do mundo pode estar se tornando uma nação de maioria evangélica? Dificilmente, concorda a maioria dos especialistas. Mas eles discordam na hora de prever o ritmo do crescimento. De um lado, estão os que acham que o Boom já passou e que a igreja católica, com a renovação carismática, equilibrou o jogo. Do outro, pesquisadores que vêem no frágil compromisso dos brasileiros com a religião um prato cheio para os neopentecostais. Cerca de 80% dos nossos católicos se dizem não-praticantes. É um enorme mercado para os evangélicos.
Não é a toa que a maioria dos convertidos vem do catolicismo. Mas, na hora de afirmar a identidade e escolher um adversário, o pentecostalismo ataca o candomblé e a umbanda. E vai na jugular, às vezes escorregando para a intolerância religiosa.
Em quase todos os templos é possível ouvir que essas religiões cultuam o diabo. Também há casos de ataques a terreiros estimulados por pastores. Pode-se dizer que a briga contra as religiões Afro-brasileiras, e não contra o catolicismo, o verdadeiro rival, seja uma estratégia de marketing. Quando enfrentaram os católicos, os evangélicos levaram um contra-ataque duro, que envolveu denuncias de charlatanismo e estelionato e ameaçou a sobrevivência das igrejas, alem de provavelmente afastar fieis. A popularidade dos evangélicos chegou ao fundo do poço quando um pastor da Universal chutou na TV uma estatua de Nossa Senhora Aparecida - os evangélicos não cultuam imagens.
Mas, embora esses episódios possam das a impressão de que o fanatismo religioso esteja em alta no Brasil, muitos especialistas defendem a tese de que o crescimento evangélico seja um indicio do contrario: de que cada vez mais gente rejeita a religião. É o que sugerem pesquisas mostrando concentrações de evangélicos nas mesmas regiões onde há altos índices de pessoas “sem religião” – caso do estado do Rio e da zona leste paulistana. As pessoas estão experimentando uma nova crença. “Se perceberem que não está dando certo, que Deus não é tão fiel, podem desistir da busca”, diz o sociólogo Pierucci. “Abandonar a religião oficial é o primeiro passo de saída do mundo religioso”, afirma.
Um indicio de que a conversão ao mundo evangélico significa um arrefecimento do fervor religioso é o fato de que as neopentecostais exigem poucas mudanças nos fieis. O resultado é que, quanto mais crescem, menos os evangélicos mudam a cara do país – bem ao contrario da revolução que ocorreu na Europa com as idéias de Lutero e Calvino. Prova disso é a programação da Rede Record, comprada pela igreja Universal com o dinheiro do dizimo, que pouco defere das concorrentes.
Talvez o trunfo evangélico para conquistar almas seja sua capacidade de adaptação. Com a rejeição à centralização da interpretação bíblica herdada da Reforma protestante, qualquer um pode abrir um templo e pregar como quiser. Assim, enquanto seus “irmãos” se expandiam em áreas pobres, à igreja Bola de Neve cresceu 1100% em tres anos orando para os ricos. Seus dez templos, cuja marca registrada são as pranchas de surfe como púlpito e os hinos religiosos em ritmo de reggae, funcionam em áreas de classe médio-alta de São Paulo e cidades de praia como Florianópolis, Itararé e Guarujá. O publico são jovens da classe A e B, com curso superior. Para quem está acostumado a fieis pobres e pouco instruídos, a bola de neve é uma surpresa desconcertante. Para os evangélicos, somente mais uma prova de que a obra de Deus chegará a todos os corações.

( XV ) EVANGÉLICOS (PENTECOSTAIS)

O acordar pentecostal é um movimento cristão que se alimenta na efusão do Espírito Santo na primeira Pentecoste cristã. Sua peculiaridade reside no fato que a experiência do batismo no Espírito Santo - confirmada pelo falar em múltiplas línguas - surgiu inicialmente a nível doutrinário para só depois florescer como uma pratica ainda na época da igreja da era apostólica, segundo Marcos, Atos e Corintios, para se difundir pelo mundo no arco do vigésimo século.
• Marcos 16:17-18. Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas, manusearão serpentes e, se beberem veneno mortal, não lhe fará mal; imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados.
• Atos 2:1-4. Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de língua de fogo, que se repartiram e repousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.
• 1 Corintios 12:4-11. Há diversidade de dons, mas um só Espírito. Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor. Há também diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito para o proveito comum. A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria; a outro uma palavra de ciência por este mesmo Espírito; a outro, a graça de curar doenças, o mesmo Espírito; a outro, o dom de milagres; a outro a profecia; a outro o discernimento dos espíritos; a outro a variedade de línguas; a outro, por fim, a interpretação das línguas. Mas um mesmo Espírito distribui todos estes dons, repartindo cada um como lhe apraz.
E não são poucos os exemplos históricos que colocam em evidencia que as experiências no batismo do Espírito Santo - por parte de quem crêem - se verificam continuadamente na historia da igreja cristã. Alguns exemplos:
• Tertuliano falou dos dons espirituais, incluindo o dom das varias línguas faladas, que se manifestavam muito naquele tempo.
• Ireneo -115-202 d.C.- dizia: “Nas nossas igrejas temos muitos irmãos que possuem dons proféticos que através do Espírito Santo se manifestam falando inúmeras línguas.”
• Dean Farras - falando dos cristãos que eram perseguidos em Roma - os descreveu como pessoas cheias de serenidade, serenidade esta que lhe permitia ir de encontro aos “suplícios” que os esperavam cantando louvores a Deus em múltiplas línguas.
• Crisóstomo - IV e V século - afirmou: Nos tempos dos apóstolos quem quer que fosse batizado imediatamente falava outras línguas; e Agostinho no IV século escreveu:”Nos também fazemos o que faziam os apóstolos quando impunham suas mãos sobre aqueles de Samaria, invocando o dom do Espírito Santo.
• Entre os movimentos religiosos recentes, Philip Scaff, conhecido histórico da igreja, faz notar que o fenômeno das múltiplas línguas como dom do Espírito Santo, reaparece vez ou outra, especialmente em períodos de despertar religioso, porque as escrituras devem continuar realizando-se conforme é dito na Bíblia:
Joel 3:1-2. Depois disso, acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões. Naqueles dias, derramarei também o meu espírito sobre os escravos e as escravas.
As doutrinas pentecostais.
Como cristãos evangélicos pentecostais, dizem, cremos em todas as doutrinas do cristianismo bíblico, mesmo se recebemos dos outros apelidos que não merecemos. Somos, e nos sentimos tão somente cristãos, por isso, do ponto de vista doutrinal acreditamos:
• Na trindade, portanto, na divindade de Jesus e na divindade do Espírito Santo.
• No nascimento virginal do Cristo, na sua perfeita humanidade, na sua vida santa e sem pecados, nos seus ensinamentos, nos seus milagres e curas, na sua morte que aconteceu devido á nossa iniqüidade e na sua ressurreição corporal. Na sua ascensão ao céu, sentando ao lado direito de Deus, onde até agora intercede por todos os santos que estão na terra, e no seu pessoal e visível retorno do céu que acontecerá no momento oportuno.
• Na inspiração verbal e plenária da Sagrada Escritura, e sendo assim, a Bíblia protestante segue exatamente o cânon judaico, em outras palavras, não contem os livros apócrifos que a igreja católica incluiu na sua Bíblia.
• Que o homem é um pecador, e que o pecado entrou no mundo com a queda do primeiro homem; que o homem tem que se arrepender de seus pecados e deve crer no Senhor Jesus Cristo para obter o perdão destes; que só através da fé Nele o homem pode ser salvo e se reconciliar com Deus, não através de obras meritórias.
• Que uma vez que o homem se arrepende, passando em seguida a aceitar Jesus Cristo, deve ser batizado por imersão na água no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, obedecendo assim ás palavras de Cristo; que a regeneração não acontece através da água do batismo, mas por meio da palavra de Deus quando é aceita através da fé, ou seja, quando a pessoa se arrepende e passa a crer na palavra do Senhor Jesus Cristo.
• Que uma vez que se renasce - segundo eles isso acontece depois do arrependimento e do batismo - torna-se necessário viver uma vida digna do Evangelho, ou seja, o crente tem que viver uma vida santa, harmoniosa e fundada sobre o amor de Cristo que se traduz na obrigação de praticar as boas obras que Deus preparou para que os homens as executem.
• Que o batismo com o Espírito Santo é uma experiência que sucede à regeneração, e que este batismo é realizado por Jesus Cristo, enquanto que a pessoa que o realiza fala outra língua de acordo com o desejo do Espírito Santo.
• Nos dons do Espírito Santo citado por Paulo no versículo 12:4-11 da primeira carta aos corintios, nos ministérios de apostolo, profeta, evangelista, pastor e doutor, oferecidos por Cristo para o aperfeiçoamento dos santos.
• Em uma vida beata alem da morte, no céu com o Senhor, para os que se salvaram - os que se arrependeram e passaram a aceitar Jesus Cristo - ou em uma vida condenada no inferno para os que se perderam (os que não aceitando Jesus Cristo morreram com seus pecados).
• Que haverá a ressurreição dos justos, quando Jesus retornar, e dos injustos depois do reinado milenar de Cristo sobre a terra.
• Celebramos a ceia do Senhor com os elementos pão e vinho para anunciar desta forma à morte do Senhor Jesus Cristo, para que volte entre nos. Rejeitamos a transubstanciação - o dogma definido no concilio de Trento, que diz que na Eucaristia o pão e o vinho se transformam em carne e sangue de Jesus.
È importante saber - os pentecostais afirmam - que existem comunidades que mesmo auto-definindo-se pentecostais, ensinam heresias. Podem ser reconhecidas pelo simples fato de não obedecerem aos ensinamentos do Novo Testamento, ou lançando mão de doutrinas ou interpretações não bíblicas. Entre estas se encontram as igrejas pentecostais que negam a trindade - o Pai, o Filho e o Espírito Santo - e realizam o batismo só no nome de Jesus, alem de pregadores que ensinam doutrinas falsas: que um cristão não pode ficar doente, que todos devem ser ricos etc., como é pregado, entre outros, pelos americanos Kenneth Copeland e Benny Hinn, seguidores das chamadas “Benções de Toronto”. Desta forma, é imperativo fazer distinções e não generalizar como muitos fazem.

( XIV ) EVANGÉLICOS (NEOPENTECOSTAIS)

A origem das maiores diferencias entre os evangélicos e os católicos residem no fato que os primeiros tem nos textos bíblicos a única fonte doutrinaria, enquanto os segundos acrescentam a eles a tradição e as varias decisões que vieram a ser adotadas através dos concílios.
Nestes últimos tempos, alegam, a igreja católica realizou inúmeras modificações: a missa que não é mais em Latim, a permissão de um ligeiro lanche antes da comunão, o posicionamento do sacerdote que agora dá as costas para o altar e a própria hóstia que ao invés de ser posta pelo padre sobre a língua do fiel - como sempre acontecera - é colocada entre os dedos daquele que se prepara para comungar. Alem disso, nos séculos passados aconteceram muitas mudanças que contrariam frontalmente a Bíblia. Por isso, dizem: não podemos concordar com eles. Aceitar Cristo, afirmam, significa entender e acreditar que quando Ele se deixou levar à cruz para nela morrer, fez isso para pagar pessoalmente pela salvação de todos os homens, e recorrem aos versículos abaixo para confirmar isso.
• Romanos 3:23. Com efeito, todos pecaram e todos estão privados da gloria de Deus, e são justificados gratuitamente pela graça; tal é a obra da redenção realizada em Jesus Cristo.
• João 3:16. Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.
• Efesios 2:8-9. Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provem de vossos méritos, mas é puro dom de Deus. Não provem das obras, para que ninguém se vanglorie.
• João 1:12. Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
Os evangélicos desprezam as imagens porque segundo a Bíblia elas são refutadas por Deus. Afirmam, alem disso, que também a igreja católica nos primeiros séculos não as usava, uma vez que estas entraram nas igrejas no final do III século, mas só a titulo de decoração. Duzentos anos depois, portanto no V século, as imagens que estavam nas igrejas passaram a serem utilizadas para instruir os fieis, mas ainda não eram consideradas sagradas. Foi depois do concilio de Nicéia em 787, e de Trento em 1562, que passaram a ser consideradas sagradas.
Eles dizem: se Deus nos ama, se deseja ter a nossa amizade, admiração e adoração, como se deve sentir quando um de nos se prostra diante de uma imagem de pedra, de madeira, de tecido, ou de um santo qualquer? Servem-se dos versículos abaixo para construírem este pensamento:
• Levítico 26:1. Não fareis ídolos. Não levantareis estatuas nem estelas, e não poreis em nossa terra pedra alguma adornada de figuras, para vos prostrardes diante delas, porque eu sou o Senhor, vosso Deus.
• Deuteronômio 4:16-19. Guardai-vos, pois, de fabricar alguma imagem esculpida representando o que quer que seja, figura de homem ou de mulher, representação de algum animal que vive na terra ou de um passaro que voa nos céus, ou de um réptil que se arrasta debaixo da terra. Quando levantares os olhos para o céu, e vires o sol, a lua, as estrelas, e todo o exercito dos céus, guarda-te de te prostrar diante deles e de render culto a estes astros, que o Senhor, teu Deus, deu como partilha a todos os povos que vivem debaixo do céu. Quanto a vos, o Senhor vos escolheu e vos retirou da fornalha de ferro do Egito, para serdes o seu povo, o povo de sua herança , como o sois presentemente.
Os evangélicos crêem nos santos, mas da forma indicada na Bíblia que é diferente do tradicional conceito católico, porque as Escrituras dizem que todos os crentes são santos, uma vez que foram santificados através do sacrifício de Jesus.
A palavra santo, no Novo Testamento, é utilizada para indicar grupos de crentes, e não para distinguir uma pessoa por mais pura que seja, ou porque realiza milagres, mesmo porque alguns o fizeram. Alem disso os evangélicos não rezam para os santos porque a Bíblia não só não diz que isso deva ser feito, mas afirma o contrario.
Para responder ao argumento de que os santos atendem as preces fazendo milagres, dizem: existem duas únicas fontes de poder espiritual: Deus e o Demonio. Deus diz que não se devem adorar imagem, assim sendo, quando aparentemente os milagres são feitos pelos santos, alem de empurrarem as pessoas para a idolatria, estes milagres não podem vir de Deus. Alem disso, os milagres são atribuídos da mesma forma entre os santos e aqueles que deixaram de sê-lo. O exemplo que é dado é que Santa Filomena, enquanto considerada tal, teria curado miraculosamente o papa Pio X, mas depois a própria igreja católica apostólica romana afirmou que esta santa jamais existiu.
Versículos que utilizam para reforçar seus argumentos:
• Lucas 4:8. Jesus disse-lhe: Está escrito: adoraras o Senhor teu Deus, e a ele só serviras (Deut.6:13).
• Atos 10:25-26. Quando Pedro estava para entrar, Cornélio saiu a recebê-lo e prostrou-se aos seus pés para adorá-lo. Pedro, porem, o ergueu dizendo: Levanta-te! Também sou um homem.
Acusam a igreja romana de interpretar incorretamente a Bíblia, ou então de fazer jurisprudência em causa própria em relação à obrigatoriedade de celibato dos padres. Vão alem, e afirmam que o ato sexual entre duas pessoas casadas não é pecado como afirma a igreja romana.
Suas afirmações baseiam-se nos seguintes versículos:
• 1 Timoteo 3:1-2. Eis uma coisa certa: quem aspira ao episcopado, saiba que está desejando uma função sublime. Porque o bispo tem o dever de ser irrepreensível, casado uma só vez, sóbrio, prudente, regrado no seu proceder, hospitaleiro e capaz de ensinar.
• 1 Corintios 7:1-5. Agora, a respeito das coisas que me escrevestes, penso que seria bom ao homem não tocar mulher alguma. Todavia, considerando o perigo da incontinência, cada um tenha a sua mulher, e cada mulher tenha o seu marido. O marido cumpra a seu dever para com a sua esposa e da mesma forma também a esposa o cumpra para com o seu marido. A mulher não pode dispor de seu corpo: ele pertence ao seu marido. E da mesma forma o marido não pode dispor do seu corpo: ele pertence á sua esposa.
Não vos recuseis um ao outro, a não ser de comum acordo, por algum tempo, para vos aplicardes á oração; e depois retornai novamente um para o outro, para que não vos tente Satanás pela vossa incontinência.
• Efesios 5:22-23. Pois as mulheres que sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como cristo é o chefe da igreja, seu corpo, do qual ele é o Salvador. Ora, assim como a igreja é submissa ao Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos.
Entretanto, a respeito da afirmação que o sexo entre marido e mulher não é pecado, a Bíblia, em Levítico 12 afirma o contrario:
O Senhor disse a Moises: Dize aos israelitas o seguinte: Quando uma mulher der à luz um menino será impura durante sete dias, como nos dias de sua menstruação. No oitavo dia far-se-á a circuncisão do menino. Ela ficará ainda trinta e tres dias no sangue de sua purificação; não tocará coisa alguma santa, e não ira ao santuário até que se acabem os dias de sua purificação.
Se ela der à luz uma menina, será impura durante duas semanas, como nos dias de sua menstruação, e ficará sessenta e seis dias no sangue de sua purificação. Cumpridos estes dias, por um filho ou uma filha, presenteará o sacerdote, à entrada da tenda de reunião, um cordeiro de um ano em holocausto e um pombinho ou uma rola em sacrifício pelo pecado. O sacerdote os oferecerá ao Senhor, e fará a expiação por ela que será purificada de seu fluxo de sangue. Tal é a lei relativa à mulher que dá a luz um menino ou uma menina.
Se suas posses não lhe permitirem trazer um cordeiro, tomará duas rolas ou dois pombinhos, uma para o holocausto e outro para o sacrifício do pecado. O sacerdote fará por ela a expiação e será purificada.
Na bíblia, como ainda veremos, existem muitas outras contradições. Neste momento, porem, nos limitaremos a repetir – do livro de Daniel – o que é dito contra o holocausto que é defendido em Levítico 12.
Requisitório contra Judá, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16 e 17.
Ouvi a palavra do Senhor, Príncipes de Sodoma;
Escutai a lição de nosso Deus, povo de Gomorra:
De que me serve a mim, a multidão das vossas vitimas diz o Senhor?
Já estou farto de holocaustos de cordeiros e da gordura de novilhos cevados.
Eu não quero sangue de touros e de bodes quando vindes apresentar-vos diante de mim.
De nada serve trazer oferendas, tenho horror da fumaça dos sacrifícios.
As luas novas, os sábados, as reuniões de culto,
Não posso suportar a presença do crime na festa religiosa.
Eu abomino as vossas luas novas e as vossas festas;
Elas me são molestas, estou cansado delas.
Quando estendei as vossas mãos, eu desvio de vós os meus olhos;
Quando multiplicai as vossas preces, não as ouço.
Vossas mãos estão cheias de sangue:
Lavais-vos, purificai-vos. Tirai vossas más ações de diante dos meus olhos.
Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem.
Respeitai o direito, protegei o oprimido, fazei justiça ao órfão e respeitai a viúva.
Os evangélicos aceitam tudo o que a Bíblia diz a respeito de Maria, mas não aceitam o que foi acrescentado pela tradição, e não rezam para Maria porque a Bíblia não ensina isso. Mesmo se o marianismo afirma a necessidade de orar para a mãe de Jesus porque tudo o que ela pede a seu Filho ele concede, uma vez que ela é intercessora, na Bíblia – continuam - não é citado ninguém que tenha ido a Jesus ou a Deus por intermédio dela.
A igreja católica ainda ensina que Maria é a “mãe de Deus”, expressão esta jamais utilizada na Bíblia, mesmo porque, se Maria fosse a mãe de Deus, concluir-se-ia que a “criatura seria a mãe do Criador”, ou seja, daquele que sempre existiu. Contrariando as Escrituras ensinam que Maria é a mãe da natureza humana de Cristo, enquanto ele, na sua natureza divina, sempre existiu. Alem disso, afirmam, Maria não concebeu sem pecado, porque ela é encontrada no templo oferecendo sacrifícios para a sua purificação como faziam todas as mulheres hebraicas. Sua afirmação se baseia no versículo abaixo.
• Lucas 2:22-24. Concluídos os dias de sua purificação segundo a lei de Moises, levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor, conforme o que está escrito na lei do Senhor: “todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor”, e para oferecerem o sacrifício prescrito pela lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos, que, como vimos em Levítico 12, um é para o holocausto e outro para o sacrifício do pecado.
A Bíblia fala a respeito de um lugar onde se pode obter a purificação dos pecados, além de dizer que quem recusa a crer em Cristo é condenado.


A idéia do purgatório foi extraída da doutrina pagã: Virgilio colocava as almas dos defuntos em tres diferentes locais: Tártaro, para os condenados; Campos Elíseos, para os bons e um lugar de expiação para os menos ruins. - Eneide 6, 1100-1105.
Sua afirmação considera o seguinte versículo:
• João 3:36. Aquele que crê no Filho de Deus tem a vida eterna; quem não crê no Filho não verá a vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus.
Para os evangélicos è Pedro que na Bíblia diz que o chefe da igreja é Cristo e ninguém mais - mesmo se a igreja católica, pela tradição, afirma que a pedra - o fundamento da igreja - é Pedro, e sobre este “mal entendido” funda, edifica e justifica o papado como sendo uma extensão de Pedro.
A afirmação dos evangélicos se baseia sobre os seguintes versículos:
• Atos 4:10-12. Ficai sabendo, todos vos e todo o povo de Israel: foi em nome de Jesus Cristo Nazareno que vos crucificastes, mas que Deus ressuscitou dos mortos. Por ele é que este homem se acha são, em pé, diante de vos. Esse Jesus, pedra que foi desprezada por vos, edificadores, tornou-se a pedra angular. Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos.
• Mateus 16:14-18. Responderam: Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros Jeremias ou um dos profetas. Disse-lhe Jesus: E vos, quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! Jesus então disse: Feliz és Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está no céu. E te declaro: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; as portas do inferno não prevalecerão sobre ela.
Os evangélicos interpretam este passo à luz de outros versículos da Bíblia que julgam que tratam do mesmo argumento, por isso afirmam que o catolicismo utilizou os versículos que eram de seu interesse.
• 1 Corintios 3:11-15. Quanto ao fundamento, ninguém pode por outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo. Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro, com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá. O dia do julgamento demonstra-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo.
A interpretação destes versículos, contudo, permite outra explicação: Se alguém edifica sobre os fundamentos, “as exemplificações de Jesus”, construindo com o material que deseja, desde os mais esplendorosos aos mais simples, - igrejas; templos; credos; doutrinas ou a obras que for - o trabalho feito aparecerá, independentemente de quem o tiver feito, mas o “melhor edificador” só será conhecido através do julgamento que o tempo sempre se incumbe de dar: se a “construção” resistir é porque é sólida - a verdade está nela - mas se queimar, ou melhor, se no tempo se esgotar nela mesmo - é porque não pregava a verdade. Só depois disso os edificadores “receberão” segundo seus méritos.
Esta interpretação deixa claro mais uma vez o que já foi afirmado: a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória. O livre arbítrio permite a cada um fazer o que quer, mas o fruto daquilo que plantou, ele mesmo, obrigatoriamente, terá que recolher.
Quando os discípulos de Jesus pediram: “Senhor, ensina-nos a orar”, ele os ensinou a orar diretamente a Deus e a ele pedir o perdão de seus pecados. A oração é o Pai Nosso, e, no que diz respeito ao perdão, as duas versões deixam claro para os evangélicos que a confissão é com Deus. Alegam ainda que a igreja romana nos primeiros séculos também ensinava a seus fieis a proceder assim.
• Lucas 11:1-4. Perdoais os nossos pecados pois também nos perdoamos aos que nos ofenderam.
• Mateus 6:9-12. Perdoais as nossas ofensas, assim como nos perdoamos aos que nos ofenderam.

A doutrina da confissão através de um sacerdote só se tornou cânone em 1225, mas ainda assim, naquela oportunidade, o padre se limitava a ouvir a confissão, e, mesmo não dando à assunção, orava a Deus para que perdoasse os pecados que haviam sido confessados. Mais tarde o clérigo recebeu a faculdade de perdoar, baseada, segundo os católicos, nas palavras de João 20:21-23. A este respeito, contudo, os evangélicos chamam à atenção para o fato de que estas palavras não são dirigidas aos apóstolos - aos doze - mas aos discípulos, que são todos aqueles que seguiam Jesus.
• João 20:21-23. Disse-lhe outra vez; a paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós. Depois destas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhe-ão perdoados; aqueles a quem os retiverdes, ser-lhe-ão retidos.
Desta forma, dizem, a prerrogativa de perdoar os pecados não é um privilegio reservado ao clero, mas é estendido a todos aqueles que acreditam no Cristo como Senhor e Salvador. Alem disso, muito mais importante é entender que os discípulos que haviam recebido esta ordem jamais ouviram a confissão de alguém, porque se limitavam a pregar o Evangelho dizendo que só em Cristo era possível obter remissão dos pecados.
O comportamento dos discípulos é, segundo os evangélicos, uma prova inconteste que a palavra de Jesus referia-se á potencialidade redentora da predicação do Evangelho, e não a uma confissão ao cura - Lucas também confirma que Jesus jamais disse para que o cristão confessasse seus pecados a outro homem.
• Lucas 24:45-48. Abriu-lhes então o espírito, para que compreendessem as Escrituras, dizendo: Assim é que está escrito, e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos no terceiro dia. E que em seu nome se pregasse a penitencia e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vos sois testemunha disto.

( XIII ) MÓRMONS

A religião dos Mórmons foi fundada por Joseph Smith no dia 6 de abril de 1830 com o nome “Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”. J. Smith nasceu na cidade de Palmyra, perto de New York, em 1805 e segundo o que é dito era vidente. Por volta de 1820 - em uma visão - vê dois seres esplendorosos - impossíveis de serem descritos segundo ele - que chama “Pai e Filho” – sendo que este ultimo lhe teria pedido para criar uma nova religião porque nenhuma das existentes era a verdadeira. Tres anos depois, em 1823, lhe aparece o anjo Moroni que lhe diz: em breve serás levado a um local onde descobriras um livro que relata a historia de antigos habitantes do solo americano. Este livro, disse-lhe o anjo Moroni, foi escrito por Mórmon, o ultimo rei dos Nephitos, uma colônia israelita que depois que a Torre de Babel ruiu migrou para a América.
Em 1827 outro anjo apareceu a Smith e o levou até uma colina onde lhe fez descobrir - estava semi-enterrada - uma caixa que continha um livro manuscrito em páginas de laminas de ouro. Retornando à sua casa, Smith começa a decifrá-lo com a ajuda de duas pedras mágicas: Urim e Tummin.
Smith, que chegara os 22 anos semi-analfabeto - só estudara tres anos ao longo da sua vida - chamou um amigo e começou a lhe ditar a tradução que fazia do livro com a ajuda das duas pedras mágicas. Este amigo, porem, teve que fazer seu trabalho atrás de uma cortina porque se visse o livro que Smith tinha nas mãos, morreria. Concluída a tradução, o mesmo anjo reaparece e leva o livro de ouro embora. Contudo, quando em 1830 o livro de Smith, “Mórmons”, foi publicado, foi criticado por todas as comunidades religiosas.
Entre 1831 e 1844 acontecem outras revelações, e entre estas, o “livro de Abrão” - desenvolvido a partir do livro dos mortos dos egípcios. È nesse período que Smith desenvolveu e sedimentou a principal linha doutrinária da sua igreja que, segundo ele, restabelecia o sacerdócio de “Aronne” fazendo renascer a verdadeira igreja que havia decaído depois do imperador Constantino.
Nestes anos, na América do Norte, começou a corrida ao ouro e Smith se engaja nesta tarefa. Enquanto isso, na sua congregação que já contava com muitíssimos adeptos, estabeleceu-se a poligamia. O próprio Smith, tempo depois, tinha 17 esposas.
No ano de 1884, enquanto ele e seu irmão Hyrum estavam presos em uma cadeia na cidade de Charthage, no Illinois, aguardando julgamento por terem sido acusados de destruir a tipografia de um jornal que criticava sua doutrina, foram linchados por cidadãos contrários à sua doutrina e à poligamia.
À morte de Smith se sucedeu um breve período dúbio, e neste tempo, houve muita desordem entre os Mórmons. Entretanto, depois que Smith foi transformado em mártir pelos seus seguidores, ouve uma reviravolta, e com ela o duplo assassinato se transformou em um impulso que fez a igreja dos últimos santos dos últimos dias se tornar ainda mais forte.
O sucessor de Smith, Brigham Young, que aparentemente chegou a ter 30 esposas e 66 filhos, levou os Mórmons em carroças cobertas ao longo de um percurso de mais de 2.300 Km. por terras inóspitas e habitadas por índios hostis, hostis porque os brancos estavam invadindo suas terras, desde as montanhas rochosas até ao extremo ocidente - naquele tempo um pedaço do México hoje conhecido como Salt Lake City, no Estado de Utah, onde construíram uma cidade que chegou a ter uma população de 118.000 habitantes, todos Mórmons.
A marcha fora extenuante, mas à vontade de Brigham Young, apesar das dificuldades que tiveram que enfrentar, manteve-se intacta. Quando a caravana saiu de Nauvoo era composta por 12.000 pessoas, mas, ao chegar, depois de dezessete meses de viagem, só restava cerca da metade. Um grupo de Mórmons, depois de se estabelecerem em Salt Lake City, se organizou e fundou uma nova seita religiosa. Esta, além de outras importantes mudanças de caráter teológico, eliminou a poligamia.
Os Mórmons em 1970 eram aproximadamente 3.5 milhões ao redor do mundo, mas o maior grupo até hoje permanece em Salt Lake City. Entre suas maiores realizações existem doze templos cujo ingresso é proibido aos não Mórmons, uma sociedade de assistência aos pobres e à universidade Brigham Young.
As Escrituras Sagradas dos Mórmons:
• A Bíblia
“Nos acreditamos que a Bíblia é a palavra de Deus na mesma medida em que ela é traduzida corretamente” afirma a oitava seção dos artigos de fé dos Mórmons.
A Bíblia deles é a versão inglesa chamada “rei Jacomo”, que Smith começara a revisar, mas que, por ter morrido, não foi concluída até hoje.
• O livro do Mórmon
Na oitava seção lê-se: “Nos acreditamos que também o livro dos Mórmons, escrito pelo ultimo rei dos Nephitos, é a palavra de Deus. Este livro é a historia dos primeiros habitantes da América aos quais Cristo apareceu depois da sua ressurreição”
• A Doutrina e os Pactos
É um elenco de 136 “revelações”, que tem o objetivo de desenvolver a palavra de Deus. A “igreja reorganizada” não aceita a “revelação” que autoriza a bigamia, e a Temple Lot - outra cisão - reduz ainda mais as “revelações“ que são aceitas neste livro, reduzindo-o ao termo “livro dos mandamentos”.
• A Perola de Grande Valor
É um volume contendo o que chamam “Livro de Moises” - muito similar ao livro Gênese do Velho Testamento - o “livro de Abrão”. Afirmam que foi escrito por Abrão e traduzido por Smith, mas em verdade é uma biografia incompleta do próprio Joseph Smith e a descrição dos “itens de fé” é tão curta que se resume em uma única pagina.
As crenças dos Mórmons em relação a Deus.
“Nos acreditamos em Deus, o eterno Pai, no seu filho Jesus Cristo e no Espírito Santo”, assim diz o primeiro artigo de fé dos Mórmons. Mas lendo suas descrições percebe-se que é uma afirmação que tem um sentido diferente do ortodoxo. Uma das “revelações” de Smith diz o seguinte: “O Pai tem um corpo de carne e de ossos tão tangível como a de qualquer ser humano”. Do livro a doutrina e os pactos, pág.130-132.
O Matrimonio e a poligamia.
Os Mórmons tomam ao pé da letra os dizeres “amai-vos e multiplicai-vos”, porque, a não ser que sejam impedidos por razões físicas ou coisa que o valha, eles são obrigados a se casar e ter filhos.
Os Mórmons mais dignos, aqueles que tem a igreja acima de qualquer outro interesse, podem obter a permissão para realizar o “matrimonio celeste”, um ritual que só é celebrado em um de seus templos sagrados. Este matrimonio, ao invés de ser um contrato com vigência vinculada ao tempo em que se vive na Terra, tem validade eterna, ou seja, o casal viverá junto pela eternidade, porque os Mórmons acreditam que a reprodução humana é eterna.
Em relação à poligamia, esta foi proibida pela igreja dos Mórmons em 1890, e a partir daquela data, quem desobedece à igreja é excomungado. Apesar disso, consideram até hoje que a poligamia está entre as maiores leis de Deus, ´por isso só foi proibida para atender as leis civis dos paises em que os Mórmons residem.
O Batismo para os vivos e os mortos
Os Mórmons não batizam as crianças, mas imergem os que se convertem na água em cerimônias não publicas. Para eles o batismo equivale à regeneração do individuo, melhor, acreditam que o ser renasce para uma nova vida e um novo saber após o batismo por imersão.
Em seus templos os membros da igreja podem batizar pessoas já falecidas, parentas ou não, Mórmones não batizados, ateus, ou seres de outras religiões. Desta forma, as almas que habitam o outro lado terão a oportunidade de ouvir o Evangelho dos Mórmons, que segundo sua crença, passa a ser lido para elas no mundo espiritual.
Para eles o batismo é o único caminho para salvação, de tal modo, como os mortos não tem corpo para imergir na água, não podem ser batizados, a não ser que alguém que ainda o tem seja batizado no lugar deles para salvá-los.
Os Mórmons, a cidadania e a caridade
Os Mórmons cultivam a boa cidadania, por isso são cidadãos exemplares no sentido mais amplo em qualquer país em que estejam vivendo. Além disso, eles praticam a caridade e com este objetivo mantém um programa assistencial quase único entre todos os demais grupos religiosos do mundo.
Eles acreditam, como em verdade é, que podem se redimir diante de Deus através das boas obras, enquanto que outras religiões cristãs - inclusive à católica - baseadas em uma interpretação bíblica - Isaias 64.6 - afirmam que as “boas obras” não são um caminho para a redenção, porque o cristão já percorreu este caminho uma vez que Jesus, devido à crucificação, já sofreu por ele.
A síntese dos Mórmons
O homem recebeu dos genitores celestes um corpo espiritual e dos terrestres um corpo físico para que lhe seja possível, através da observação de normas e doutrinas, progredir espiritualmente. O sacrifício de Jesus foi necessário porque abriu a estrada que leva à reunificação do corpo físico com o espiritual. É imperativo entrar em contato com o Evangelho e com a igreja dos santos dos últimos dias para amadurecer o arrependimento dos pecados e chegar ao batismo, porque este é indispensável para a salvação do ser.
Fonte: B.C. Conkie; Mórmon Doutrine.

( XII ) TESTEMUNHAS DE JEOVÁ

Em um bar de Pittsburg, em 1876, Carlos Russel, um jovem vendedor de 24 anos, ouvindo um ateu negar a existência de Deus, do paraíso e do inferno, ficou consternado por duas razões: pela agressividade do pregador e porque a sua ignorância, em termos bíblicos, não lhe permitiu contestá-lo. Dias depois procurou uma bíblia e começou a estudá-la, ficando estarrecido com a leitura do apocalipse de João e com as frases que profetizavam o fim do mundo. Mas isso não foi tudo porque, segundo algumas testemunhas, concluiu que se havia um inimigo na igreja, este era o papa.
Quando Russel terminou seus estudos bíblicos começou a pregar suas conclusões convicto que estava explanando a palavra de Deus, e estava tão convencido disso, que chegou a dizer que o mundo acabaria 1914. Não tendo acontecido, a data do evento foi postergada para 1916 e finalmente foi transferida para 1918. Entretanto, ele não viveu o suficiente para se sentir frustrado.
Para difundir suas idéias, Russel, já em 1879, passou a editar e publicar em Pittsburg um periódico chamado “A torre Guarda de Sion” e, enquanto aguardava data prevista para que se realizasse sua profecia não chegava, começou a ser seguido por muitos admiradores que viam nele um novo profeta. Russel chegou a ser publicamente aclamado como o maior homem depois de São Paulo.
Quando Russel morreu em 1916, sucedeu-lhe J.F.Rutherford - apelidado “Juiz” - porque defendera Russel nas inúmeras causas que lhe haviam sido movidas por seus fieis quando se deram conta que ele era um impostor porque o mundo não acabara.
Rutherford, afirmando que a alma de Russel o acompanhava, desenvolveu uma nova doutrina, algo diferente da que havia pregado seu mestre, passando a difundi-la através de opúsculos e do seu livro “A Verdade Vos Libertará”. Mesmo assim, como péla terceira vez o mundo não havia terminado, ele mesmo teve que se esplicar. Sua habilidade, contudo, lhe permitiu contornar as dificuldades e fazer a sua doutrina crescer, até que, em 1931, deu ao seu movimento o nome que ainda hoje possui: “Testemunha de Jeová” . Para ele o nome Deus era comum para todos os deuses, mas o verdadeiro tinha seu nome próprio, e este era Jeová.
A Rutherford sucedeu Nathan Knorr - que ate 1976 dirigiu o movimento das alturas dos arranha-céus de Brooklyn, a sede do movimento - e este, mais uma vez, teve que modificar a ultima data agendada para o fim do mundo, porque quando este tempo chegou o planeta permaneceu incólume.
As testemunhas de Jeová aguardam até hoje o fim do mundo, só que, devido às experiências pregressas, o seu fim do mundo não tem mais data marcada. Quando Knorr morreu foi substituído por Fred W. Franz que foi eleito presidente em 1977.
Franz, depois de concluir seus estudos, inscreveu-se na faculdade de letras de Cincinnati, EUA, de onde se afastou para se associar à congregação de estudos bíblicos, e, em 1946, participou da elaboração das escrituras sagradas das testemunhas de Jeová cujo nome é “Novo Mundo das Escrituras” - a única “Bíblia” que julgam verdadeira.
A Franz sucedeu Milton Henschel, depois que seu neto Raymond Victor Franz foi afastado da direção da sociedade por terem sido descobertas irregularidades na escrituração contábil.
As testemunhas de Jeová e a alma:
Negam a existência da alma e do espírito no homem (mesmo se Rutherford afirmava que a alma de Russel o acompanhava), porque para eles o homem é só matéria e, com a morte, ele deixa de existir. Afirmam que o espírito é apenas uma “força vital” que permite ao individuo permanecer vivendo, sem ter nenhuma conotação como ser: não pensa, não fala e não ouve (pág 39). Assim sendo, não existe o paraíso, o purgatório ou o inferno. Só 144.000 testemunhas de Jeová ressuscitarão, ou melhor, serão recriadas para viverem uma vida eterna e feliz no céu. Os demais gozarão a felicidade material sobre a terra. (pág 34-45).
As testemunhas de Jeová e o fim dos tempos:
Desde que a doutrina foi fundada em 1879 por Russel, é afirmado, inicialmente com a fixação de datas e posteriormente mantendo-ás em aberto, que o fim do mundo está próximo, e que depois desse evento começa a eternidade. Com este argumento fazem coro com os adventistas que continuam falando do fim do mundo, mas, em que se baseiam para afirmar isso?
Segundo seus cálculos o tempo de vida do mundo é de 49.000 anos, mas 46.026 destes transcorreram antes de Cristo, e para definir este período multiplicam o numeral 7 - os sete dias da criação do mundo do Livro Gênese - por 7.000.
Alem disso, sempre segundo eles, o gênero humano terá ao todo 7.000 anos - os mesmo sete dias da criação vezes 1.000 - numero que retiram do Salmo 89, versículo 4 que diz: “porque mil anos, diante de vós, são como o dia de ontem que já passou, como uma só vigília da noite” mesmo se, como vimos na primeira parte deste livro, a paleontologia trouxe à luz fosseis humanos muito mais velhos do que isso. Não é tudo. O mesmo Salmo, no versículo 10 diz: “Setenta anos é o total da nossa vida, os mais fortes chegam aos oitenta”, enquanto na pratica, como sabemos, algumas pessoas superam os 130 e na bíblia, no livro Gênese 5:6-8 é dito:
Set viveu cento e cinco anos, e depois gerou Enos. E depois do nascimento de Enos, viveu ainda oitocentos e sete anos e gerou filhos e filhas. A duração total da vida de Set foi de novecentos e doze anos e depois disso morreu. Etc. Etc.Etc.
Nos seus ensinamentos atuais, atuais porque sem duvida como já aconteceu no passado serão alterados novamente, as Testemunhas de Jeová afirmam na pág. 82 do livro ”A Verdade que conduz á vida Eterna”, que nos dias presentes o mundo vive um tempo dominado por governos influenciados por Satanás, e neles, organizações, igrejas, partidos políticos e até empresas comerciais, são instrumentos do diabo para que sejam executados os maiores crimes: guerras, carestias, terremotos, o ilícito, e até falsos profetas. È por isso que o mundo tem que acabar. Segundo eles, os últimos dias do mundo tiveram inicio em 1914 quando Cristo tomou posse do seu reino no céu - antes esta posse havia sido calculada por Russel em 1874 e depois em outras datas - até que Nathan Knorr, lendo na bíblia o versículo 24:34 de Mateus: “Em verdade vos declaro: não passará esta geração antes que tudo isso aconteça”, deduziu que o fim aconteceria antes que os nascidos em 1914 viessem a falecer – esperavam que o fim acontecesse antes do apagar das luzes do ano 2000. Entretanto, enquanto o fim do mundo não chega... eles continuam dizendo que:
• As testemunhas de Jeová alcançarão a perfeição, seja espiritual, porque todos serão purificados de seus pecados, e assim sendo, todos tornar-se-ão belos. Pág 107.
• Os mortos, mas só os que eram testemunhas de Jeová, ressurgirão, e depois disso ninguém mais morrerá.
• A Terra transformar-se-á em um verdadeiro paraíso. A água, o céu e a terra não serão mais poluídos e do solo nascerão frutas e flores lindíssimas. A terra transformar-se-á em um parque estupendo onde homens e animais - mesmo as grandes feras - viverão como irmãos. Pág 112.
• Quando findarem os mil anos, os homens, agora já todos testemunhas de Jeová, serão colocados mais uma vez diante de uma prova: Satanás e seus demônios serão libertados do abismo e terão novamente a chance de levar o homem ao mal.
• Quem permanecer fiel a Jeová continuará a viver para sempre sobre a terra. Quem ao invés disso o trair, será destruído junto com Satanás e os seus demônios. Pág 112-113. (Uma variação da Bíblia - apocalipse 20:7-10) - que diz: Depois de se completarem mil anos, Satanás será solto da prisão. Sairá dela para seduzir as nações dos quatro cantos da terra para reuni-las em um combate. As vitimas serão numerosas como as gotas de água no mar. Terá então inicio à vida eterna mas de duas formas distintas:
• A primeira está reservada só as 144.000 testemunhas de Jeová que viverão no céu com Deus, porque na bíblia, apocalipse 7:4 é dito: “Ouvi então o numero dos assinalados: cento e quarenta e quatro mil assinalados, de toda tribo dos filhos de Israel”.
• A segunda é reservada para aqueles que vencerão a ultima prova, porque estes viverão eternamente felizes na terra.
As Testemunhas de Jeová e a igreja:
Se existe uma instituição contra a qual as testemunhas de Jeová manifestam a sua hostilidade é a igreja, ou igrejas. Eles as identificam com a antiga Babilônia, contra a qual os profetas atiravam imprecações e ameaças pelos pecados que nesta cidade eram cometidos. Pág 131-136. Assim as igrejas são chamadas prostitutas, ou adulteras espirituais - pág. 134, e, por serem a herança da “doutrina e das praticas” babilônicas, tem que ser abandonadas por aqueles que desejam a salvação - pág 135.
Mais uma vez uma interpretação da Bíblia, II Corintios 6:17-18 que diz:
“Portanto, sai do meio deles e separai-vos, diz o Senhor. Não toqueis no que é impuro, e vos receberei. Serei para vos um Pai e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor todo-poderoso” .
As Testemunhas de Jeová e a Cruz, as festas religiosas, o sangue e o serviço militar.
• Afirmam que Jesus não morreu na Cruz, mas em um poste - pág 141-143 - e seu argumento é que a palavra grega “staurós” significa o poste utilizado para supliciar os culpados. Mas, a partir do II século a.C., os gregos, romanos e cartagineses acrescentaram ao “poste” a madeira transversal na extremidade superior, chamada “patibulum”, tornando-a o madeiro que conhecemos, instrumento utilizado para supliciar escravos, bandidos ou os que não possuíam cidadania romana como aconteceu com o Apostolo Pedro.
• As testemunhas de Jeová, pelas mesmas razões dos evangélicos, se negam a honrar os santos, e estendem sua não aceitação ao Natal e a Páscoa, porque, como já vimos, quando o imperador Constantino tornou o cristianismo à religião oficial, acomodou as datas sagradas do cristianismo naquelas em que as religiões pagãs comemoravam seus deuses - pág 143-150.
• Não aceitam a utilização do sangue, mesmo para transfusões medicas - pág 163-169 - porque a Bíblia, no Antigo Testamento, proíbe o uso do sangue por vários motivos:
1. Para evitar que o sangue do homem mau incline o homem bom a espargir o sangue de seus similares
2. Porque o sangue representa a vida, e ninguém pode tomá-la de outros.
3. Pelo caráter sagrado que o sangue tem nos sacrifícios.
A objeção consciencial que coloca as testemunhas de Jeová contra o serviço militar não tem origem no amor pela paz, mas da sua interpretação que o Estado é um instrumento de satanás.
As Testemunhas de Jeová e Jesus Cristo.
Nas paginas 46 a 54 do livro “A Verdade que conduz à Vida Eterna”, as testemunhas de Jeová condensaram sua doutrina em relação a Jesus Cristo. Essa, assim pode ser sintetizada: Jesus não é Deus, é simplesmente uma criatura humana criada por jeová-deus antes de todas as demais criaturas, e esta definição, por sua vez, impede a aceitação da Trindade, ou seja: se Jesus é humano, o Espírito Santo não existe, portanto só existe Jeová-Deus. Entendem que como primogênito de Deus, aqui veio para cumprir sua tarefa, tarefa esta que eles, as testemunhas de Jeová, depois que Jesus morreu, em nome de Deus assumiram para continuá-la. Assim, se alguém disser a um deles “que Jesus te acompanhe”, responderão com um certo aborrecimento: Jesus não, Jeová.
Fonte: A verdade que conduz á vida eterna; Brooklyn. H.C. Mc Ginnis; I Testimoni de Geova. G.Herbert SJ, “Les Témrins de Jéhov; Bellarmin, Montreal.